Ao iniciar o mês, nos deparamos com diversas campanhas de Setembro Amarelo, dedicadas à conscientização sobre prevenção ao suicídio e valorização da vida. Apesar de ser um momento importante para abrir espaços de diálogo sobre saúde mental, a verdade é que este assunto não pode se limitar a uma data específica — especialmente quando falamos sobre homens, para quem expressar sentimentos ainda é visto, muitas vezes, como sinal de fraqueza ou perda de controle.
É justamente nesse cenário que a saúde mental masculina precisa ser trazida para o centro das conversas. O silêncio imposto pelos estereótipos de masculinidade pode se transformar em sofrimento invisível, afetando não apenas o bem-estar individual, mas também relacionamentos, trabalho e qualidade de vida.
Falar sobre emoções, pedir ajuda e reconhecer vulnerabilidades não diminui ninguém; ao contrário, pode ser um dos gestos mais fortes e transformadores que um homem pode fazer por si mesmo e pelas pessoas ao seu redor.
os homens e a dificuldade de pedir ajuda
Estudos mostram que homens, em geral, apresentam maior resistência em buscar apoio psicológico ou médico para lidar com problemas emocionais.
Um levantamento do Ministério da Saúde apontou que, em 2019, a taxa de mortalidade por suicídio entre homens no Brasil foi de 10,7 por 100 mil habitantes, enquanto entre mulheres foi de 2,9 — indicando um risco aproximadamente 3,8 vezes maior para eles.

Globalmente, os homens também representam a maioria das mortes por suicídio. Um estudo do The Lancet Public Health demonstra que em 2021, 519 mil homens morreram por suicídio no mundo, contra 227 mil mulheres. Embora a taxa global tenha diminuído nas últimas décadas, homens seguem em risco maior, especialmente por suicídios com armas de fogo, com destaque para EUA, Uruguai e Venezuela.
Embora os homens estejam entre as principais vítimas de suicídio, isso não quer dizer necessariamente que apresentem taxas mais altas de depressão ou ansiedade, mas pode significar que os estigmas sociais ligados à masculinidade dificultam o acesso ao cuidado e aumentam os riscos.
A construção social da masculinidade — marcada por ideias como “homem não chora”, “precisa ser forte” ou “não pode demonstrar vulnerabilidade” — acaba criando um ambiente onde expressar emoções é visto como sinal de fraqueza. Esse silêncio, por sua vez, pode se transformar em um sofrimento silencioso.
a pressão do “papel de homem”
Uma matéria da Revista Radis, veiculada pela Fiocruz, aborda como padrões rígidos de masculinidade, como a ideia de que “é preciso que o homem seja forte, provedor, ativo e distante emocionalmente”, restringem sua expressão emocional e agravam a vulnerabilidade masculina.
A pesquisa destaca que muitos homens internalizam essa ideia de que devem ser fortes, provedores e emocionalmente reservados. Esse padrão de masculinidade reforçado culturalmente contribui diretamente para que eles minimizem sinais de estresse, ansiedade ou depressão — e retardem a busca por apoio — apesar de representar a maioria dos casos de suicídio.
Quando se trata de saúde mental, essa cobrança se manifesta em atitudes como:
- evitar consultas médicas ou sessões de terapia;
- utilizar álcool e outras substâncias como forma de lidar com a dor emocional;
- ignorar sinais de adoecimento psicológico até que se tornem crises.
a importância de quebrar o silêncio
Falar sobre saúde mental não diminui ninguém — ao contrário, pode salvar vidas.
O Relatório Mundial de Saúde Mental reforça que políticas públicas, empresas e a sociedade em geral devem incentivar espaços de escuta e acolhimento. Para os homens, isso significa desconstruir a ideia de que buscar ajuda é um sinal de fraqueza e compreender que cuidar de si também é um ato de coragem.
Além disso, terapias, grupos de apoio e práticas como meditação, exercícios físicos e hobbies criativos podem ser aliados importantes. A chave está em abrir espaço para que homens se sintam autorizados a falar sobre seus sentimentos sem medo de julgamento.
e o que cada um pode fazer para mudar essa realidade?
- Valorizar o diálogo: perguntar como alguém está de verdade, e ouvir sem julgamentos.
- Quebrar estigmas: substituir frases como “isso é frescura” por acolhimento.
- Dar o exemplo: homens que compartilham suas experiências de vulnerabilidade ajudam a transformar a cultura.
- Apoiar redes de cuidado: incentivar colegas, amigos e familiares a procurar apoio profissional.
por uma masculinidade mais leve e humana
Setembro Amarelo é um lembrete importante, mas falar sobre masculinidade e saúde mental precisa ser um compromisso para todos os dias do ano. Quebrar estereótipos, abrir espaço para o diálogo e incentivar os homens a cuidarem de si é um passo fundamental para uma sociedade mais saudável e equilibrada.
Cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza — é uma das maiores demonstrações de força.
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